quinta-feira, 25 de março de 2010

Com a palavra, Clarice Lispector:

Não sei amar pela metade; nunca soube. Aliás, não se trata só de amor, mas de qualquer tipo de sentimento. Não sinto nada mais ou menos, ou eu gosto ou não gosto. Não sei sentir em doses homeopáticas. Preciso e gosto de intensidade, mesmo que ela seja ilusória e se não for assim, prefiro que não seja. Não me apetece viver histórias medíocres, paixões não correspondidas e pessoas água com açúcar. Não sei brincar de ser café com leite. Só quero na minha vida gente que transpire adrenalina de alguma forma, que tenha coragem suficiente para me dizer o que sente antes, durante e depois ou que invente boas estórias caso não possa vivê-las. Porque só assim eu me divirto e é só isso que me interessa.

Clarice Lispector

domingo, 14 de março de 2010

Porque fazer Literatura é dádiva

Às vezes sou abordado por amigos e conhecidos que pedem para eu ler poesias escritas por eles e perguntam se gostei ou não. Por mais que estude poesia ainda me vejo longe do que tanto quero, ser crítico literário. Segue a postagem um desses casos de poesia lida por mim e fiquei maravilhado com tanto sentimento. Como já se sabe, para fazer poesia não necessariamente precisa de regras etc. Perguntei ao dono se a poesia ia ficar sem nome. Ele pensou e respodeu "sim, pois ela se destacou assim". A meu ver, uma brilhante resposta. Deleitem-se:

Enquanto não voltar ficarei assim
Intranquilo, cansado, preso
Te chamo e você não vem
Te espero e você não chega!

Amar um amor inocente à distância
É enfrentar um inimigo invencível

Na angústica da noite te sinto ao meu lado
A procurar-me com tua boca
Embora seja sonho, ou ilusão consciente
Eu me entrego
E me curvo aos delírios da minha mente
Fujo do meu mundo quando penso em você
É triste estar sozinho,
Tudo parece estar tão vazio
Da mesma forma que o temporal vem
E depois vai embora
Me dá muita alegria saber que minha dor
Não será para sempre
Nem ao menos viverá comigo pela demora dos dias...

Acredito que esse jejum
Logo, Logo
Passará...

Te quero tanto

(Heryvelton Ferreira)

Muito boa!

quinta-feira, 11 de março de 2010

Cafezinho por R$ 352

O preço do cafezinho, tirado em máquina de expresso, foi estimado pelo Ministério da Pesca e Aquicultura em R$ 352,33. A bagatela foi divulgada em planilha de custos que serviu de referência para o processo de licitação do órgão, suspenso por medida cautelar do Tribunal de Contas da União, em 1º de julho. Além do preço exorbitante de um cafezinho, o TCU apontou sobrepreço nos valores de referência de outros produtos, superestimativa de orçamento e inchaço no número de diárias. Eram cotadas 3.176, sendo que os eventos totalizariam 871 dias.

A licitação tinha como objetivo o registro de preços para "eventual contratação de empresa" especializada em eventos. Na planilha de referência feita pelo órgão, estão previstos 4.560 cafés feitos em máquina a R$ 352,33 cada, comprados em rede hoteleira de três e quatro estrelas, além de mais 12.000 em hotéis cinco estrelas e outros 12.000 fora da rede hoteleira. Segundo o edital de licitação, a pasta previa gastar R$ 10 milhões com a bebida.

Também em hotéis cinco estrelas, havia, no edital, a previsão da necessidade de 12 mil garrafinhas de água de 500ml a R$ 7,83m cada. Seis dias após a decisão do TCU, a pasta decidiu cancelar em definitivo a licitação. Procurado pelo Correio, o ministério justificou o cancelamento como fruto de "conveniência administrativa". A assessoria de imprensa disse ainda que o registro dos preços, objetos da licitação, não significava que os serviços seriam feitos na totalidade. O órgão também garantiu que os valores de referência foram objeto de pesquisa de preços no mercado. Os auditores do TCU encontraram o cafezinho por, no máximo, R$ 2,50, em Brasília, onde o custo de vida é um dos mais elevados do país.

Diario de Pernambuco (Recife, domingo, 2 de agosto de 2009)

terça-feira, 9 de março de 2010

Pobreza

Diario de Pernambuco, 05 de marco de 2010


Em junho do ano passado, a ONU elaborou documento sobre a pobreza do mundo constando que o número de pessoas que vivem com menos de 1 dólar por dia nos 49 países mais pobres do mundo - principalmente na África - mais do que duplicou nos últimos 30 anos, chegando a 307 milhões ou 65% da atual população mundial.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Contratando artistas e arquitetos

Tereza Halliday - Artesão de Textos


Passado o carnaval, ainda se comenta o despautério da escultura do Galo da Madrugada versão 2010, na Ponte Duarte Coelho. Magrelo que só modelo de passarela, parecia estar chocando sobre um farol marítimo - pilastra listrada de vermelho e preto. Decepcionou o imaginário de muitos foliões.
Uma representação de Jesus bem gordo ou um Buda bem megro revoltaria seus seguidores. Os seguidores do Galo o têm como venerável figura. Chegam às raias da adoração, Deus os perdoe. Não se deve, pois, brincar com símbolos fortes - religiosos ou não - sob pena de desagradar e ofender. Por outro lado, nenhum artista, criador, inovador pode agradar a todo mundo. O criador do Galo 2010 sofre a celeuma em torno de sua criação. Todo artista quer ser elogiado - é natural. Quando não o é, sente-se um incompreendido. Tudo o que o artista do Galo queria era expor a beleza encarnada em sua concepção pessoal de galináceo, dar prova de sua criatividade e labor naquela escultura gigante cuja imagem ganharia os mundos da internet.
Mas, o sucesso e o agrado não acontecem por tabela, só porque o artista tem fama de bom. As edificações cilíndricas de Oscar Niemeyer no Parque Dona Lindu que o digam. Parecem ter sido projetadas para ser vistas de alto, ou contempladas em miniatura, numa maquete. Ao rés-do-chão, foram apropriadamente interpretadas pelos olhares dos passantes como feiosas caixas d'água ou banais tanques de petróleo.
Esse descompasso entre resultado e expectativas acontece com frequência. É preciso o maior cuidado com encomendas de trabalhos a artistas, arquitetos, ambientadores. Com o financiamento do cliente, eles buscam realizar seu sonho pessoal de criação, sua "viagem" estética. Não raro, ignoram gostos e necessidades do contratante. Ficam tão apaixonados por sua própria visão do belo, que esquecem de compatibilizar forma e função. Os resultados, às vezes, são desastrosos: no restaurante de luxo, lindas cadeiras desconfortáveis; no edifícil público, escadas fenomenais sem segurança; no prédio do condomínio, vidraças magníficas dificílimas de manter limpas; na parede do apartamento, o quadro deprimente, por ordem do arquiteto; no carnaval, a escultura de uma galo magro quando um gordo tradicional era o que agradaria aos pagantes do imposto que pagou a obra.
O significado emocional de uma obra artística não é o mesmo para todo mundo. Quando o artista contratado tem a sensibilidade e o bom senso de mesclar sua criatividade com a história e necessidade do freguês, é gratificado com reações de maravilhamento: "Era exatamente o que eu queria" , "Ficou mais bacana do que eu imaginava". Encomendas a artistas, arquitetos e quejandos exigem muito entendimento, paciência e gentileza entre as partes; arrogância de lado a lado é prejudicial. E o contratado tem a missão de usar sua genialidade para amarrar o burro onde o dono sonha. Do cantrário, pode dar zebra.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Introdução ao blog "Isaac Melo - Textos Selecionados"

A ideia central ao criar este blog é mesmo o de, como leitor assiduo, publicar os melhores e mais importantes textos ou partes deles que seja de relevância no meu ponto de vista. Procurarei expor aqui, sem intensão de ser comentado e, caso discutido, agradecido ficarei, artigos jornalisticos, literários, opinativos. Que esta página da internet sirva pelo menos para reflexão sobre os temas mostrados. Conseguido isso, estará realizada a principal função dele.

Isaac Melo