por Roberto Pereira (Ex-secretário de Educação e Cultura de Pernambuco)
Antes, a carta era o instrumento de comunicação entre as pessoas, apesar da demora, em priscas eras, para chegar aos destinatários, mas sempre um instrumento eficaz de entendimento e de estreitamento entre os povos. Depois, penso que na sequência, o telegrama, o telégrafo e o Código Morse, o fax e, agora, os e-mails, através da internet, além das mensagens, dos torpedos pelos celulares e quanto mais apareça neste inimaginável e admirável mundo novo colocado velozmente à nossa frente.
A carta de Pero Vaz de Caminha é o primeiro texto sobre o Brasil. Não tem intenções artísticas, mas é muito expressiva, por registrar as condições de vida dos primeiros colonizadores e habitantes da terra descoberta. Ela não só adensa e condensa as características dessa terra, como mostra a visão de mundo dos portugueses, apresentando a cultura dos índios num contraponto à dos europeus.
O telegrama criou uma linguagem enxuta, até por economia do valor a ser pago. Segundo Jô Soares, eis o modelo: "Viagem boa. Nós bem. Tempo maravilha.Beijosfulano". O "Beijosfulano", numa palavra só, é um expediente para economizar no telegrama.
Emílio de Menezes, que ficou na nossa língua conhecido como um dos grandes humoristas, quando da morte de uma amiga passou um telegrama cifrado para Machado de Assis, dizendo: "Machado, enxada foi-se".
O grande escritor Francisco Bandeira Melo, quando o poeta-embaixador João Cabral de Melo Neto recebeu , na Espanha, o Prêmio Rainha Sofia de Poesia Iberoamericana, atribuído pelo Patrimônio Nacional de Espanha e pela Universidade de Salamanca, enviou ao autor de Morte e Vida Severina o telegrama mais curto de que se tem notícia: "João: Olé. Bandeira".
Em Pernambuco, um governador preocupado com o problema da seca reuniu os prefeitos do Sertão, debateu o assunto que historicamente nos angustia, e pediu aos prefeitos que dessem notícias sobre as condições climáticas da sua cidade. Para espanto desse alto mandatário pernambucano, era contemplado diariamente por um mesmo burgomestre, com o seguinte telegrama: "Governador, chuvas? Nenhumas, prefeito Fulano de Tal" (SIC).
"Chegarei de surpresa dia 15, às duas da tarde, voo 619 da Varig...". Mengálvio (Ex-meia do Santos, em telegrama mandado à família quando em excursão à Europa). Uma surpresa, portanto, com dia e hora marcados.
O meu pai, escritor Nilo Pereira, ao ser distiguido pela Academia Brasileira de Letras, por seu conjunto de obras, com o Prêmio Machado de Assis, foi agraciado com um outro laurel: um telegrama de Luís da Câmara Cascudo, com a seguinte mensagem: "Nilo, Larim, toré, babá. Cascudo." A expressão, de origem indígena, significa, pelo que suponho, alegria, e era a forma como eles se cumprimentavam para expressar o contentamento a cada reencontro. Expressão que, com o encantamento do folclorista Cascudo, passou a ser usada nas missivas e nos reencontros entre o meu pai e o insigne homem público Marcos Vilaça, e hoje, nos e-mails trocados modernamente entre mim e o escritor universal de Limoeiro.
Quando da eleição malograda do ex-governador de Pernambuco Cid Sampaio ao Senado Federal, o escritor Maviael Pontes enviou ao ilustre político a seguinte mensagem telegráfica: "Dr. Cid: Parabéns eleição senador federal. Perdeu, mas poderia ter vencido." Venceu o gesto!