[O texto que segue é um artigo de opinião, formulado de modo empírico, baseado essencialmente na análise e observação da música atualmente. Não dotada de conceitos científicos ou pesquisas mais profundas, sendo restrita a opinião de um cidadão.]
Por Isaac Melo
"Arte e ciência de combinar os sons de modo agradável ao ouvido", diz, em definição a palavra "música", o imortal da Academia Brasileira de Letras, Aurélio Buarque. A caracterização desta arte por este literato vem, como é perceptível na maioria dos estados brasileiros, caindo por terra. Ou é a própria essência da música que está em declínio.
A história da música, que é alvo de uma análise e pesquisa maior, não sendo o objetivo aqui proposto, remonta de séculos atrás. Basta só lembrar da origem do termo grego, gerador do gênero literário, lírico. Proveniente do instrumento musical lira, mostra que a música não é um modo de expressão recente. Uma das escolas literárias que mais vai se utilizar da música na Idade Média é o Trovadorismo. Movimento artístico literário caracterizado pelas cantigas, utilizou-se da melodia associada à poética - ou trova como a sociedade do século XIII chamava - para declamar sentimentos a alguém. A arte musical era de um rigor conteudístico refinado, e é fonte de estudo até hoje pelos grandes pesquisadores da área.
Ao contrário do que antes era música, atualmente, no Brasil, na era do "Rebolation", "Na Base do Beijo", "Xonou, Xonou" , basta só ter letras formando códigos, uns instrumentos tocando aleatoriamente, cerveja e... está feita a música. Em leituras diárias, deparei-me com uma matéria publicada pelo "Diario de Pernambuco" de 28 de Abril do ano corrente sobre a censura da música na ditadura de 1964. Ao lançar um cd o artista era obrigado a enviar as letras das canções compostas ao Conselho Superior de Censura. Cabia a este último decidir se as ideologias ali contidas eram subversivas ou não. Palavras como "Tentação" (nome da música de Dominguinhos), "Mijação" (parte da letra de uma canção de Kleiton e Kleber), "Eternamente Grávida" (de Joyce Moreno, fazendo uma analogia entre a criação musical e o parto), eram consideradas "referências depreciativas que ferem a dignidade nacional". É claramente percebido ser nem a censura nem a baixa qualidade musical observada hoje enquadrados no conceito aureliano. Não que esta seja uma linha não interruptível a ser seguida rigorosamente por quem faz a música. Mas, a grande maioria das canções ouvidas nos dias atuais é de lamentável gosto. Basta só ir a um pagode, micareta, baile funk, assim como eventos de forró eletrônico para ver, ou melhor, ver e ouvir, já que homens e mulheres semi-nus cantam e dançam no palco, a vergonha da grande maioria de nossas músicas.
Sim, a essência da música está em declínio. Nem proibir, já que estamos num estado democrático de direito, o qual eu defendo, nem permitir a entrada de palavras chulas em nossos lares. Porém, distinguir a má qualidade musical da boa. A nossa trilha sonora deve continuar a ser como nos primórdios da história e trazer "os sons de modo agradável ao ouvido" e letras com conteúdo de qualidade. Seja amoroso, cômico, religioso, crítico, social.